Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 44 / 273

Seria um pecado o padre Arnall sentir ira, ou ser-lhe-ia permitido ficar irado quando os rapazes eram preguiçosos, porque isso os fazia estudar melhor, ou ele apenas fingiria estar irado? Se fazia isso, era porque lhe era permitido, porque um padre devia saber o que era pecado e o que não era. Mas, se o cometesse um dia, por engano, como faria para se confessar? Talvez se confessasse ao vice-reitor. E, se o vice-reitor o fizesse, iria ter com o reitor; e o reitor com o provincial; e o provincial com o geral dos jesuítas. A isso se chamava ordem; e ele tinha ouvido o pai dizer que eles eram todos muito espertos. Todos teriam podido tornar-se grandes homens do mundo, se não se tivessem feito jesuítas. E começou a pensar no que o padre Arnall e Paddy Barrett teriam podido ser e no que Mr. McGlade e Mr. Gleeson teriam sido se não tivessem sido jesuítas. Era difícil imaginar, porque teria que pensar neles de uma forma diferente, com casacas e calças de cores diferentes e com barbas e bigodes e chapéus de diferentes tipos.

A porta abriu-se e fechou-se silenciosamente. Um rápido murmúrio percorreu a aula: o prefeito dos estudos. Houve um silêncio mortal e depois ouviu-se o estalo forte da palmatória sobre a última carteira. O coração de Stephen deu um salto de medo.

- Há aqui rapazes que precisem de ser castigados, padre Arnall? - exclamou o prefeito dos estudos. - Há aqui patifes preguiçosos que precisem de castigo?

Avançou até ao meio da aula e viu Fleming de joelhos.

- Olá! - exclamou. - Quem é este rapaz? Porque está ele de joelhos? Como te chamas, meu rapaz?

- Fleming, senhor.

- Com que então, F1eming? Um preguiçoso, naturalmente.

Vê-se na tua cara. Porque está ele de joelhos, padre Arnall?

- Fez um péssimo exercício - disse o padre Arnall- e não soube responder às perguntas de gramática.





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