O reitor voltou a olhá-lo em silêncio. Depois sorriu e disse:
- Oh, bom, foi um engano; tenho a certeza de que o padre Dolan não sabia.
- Mas eu disse-lhe que os tinha partido, senhor reitor, e ele deu-me palmatoadas.
- Disse-lhe que tinha escrito para casa a pedir um novo par?
- inquiriu o reitor.
- Não, senhor reitor.
- Oh, nesse caso - disse o reitor -, o padre Dolan não percebeu. Pode dizer-lhe que eu o dispenso das lições por alguns dias.
Stephen apressou-se a dizer, receando que os tremores o impedissem de falar:
- Mas, senhor reitor, o padre Dolan disse que amanhã iria de novo dar-me palmatoadas por causa disto.
- Muito bem - disse o reitor -, foi um engano, e eu próprio falarei com o padre Dolan. Está bem assim?
Stephen sentiu os olhos cheios de lágrimas e murmurou:
- Oh, sim, senhor reitor, obrigado.
O reitor estendeu-lhe a mão por cima da secretária, do lado do crânio, e Stephen, apertando-a, sentiu a sua palma fria e húmida.
- E agora, boa tarde - disse o reitor, retirando a mão e inclinando a cabeça.
- Boa tarde, senhor reitor - disse Stephen.
Fez uma vénia e saiu silenciosamente da sala, fechando as portas cuidadosa e lentamente.
Mas, quando passou pelo velho criado no patamar e se viu de novo no corredor baixo, estreito e escuro, começou a andar cada vez mais depressa. Com uma velocidade cada vez maior, foi percorrendo a obscuridade, cheio de excitação. Bateu com o cotovelo na porta ao fundo e, descendo as escadas a correr, percorreu velozmente os dois corredores e saiu para o ar livre.
Ouvia os gritos dos rapazes no recreio. Desatou a correr e, correndo cada vez mais, atravessou a pista de escória e chegou ao recreio do terceiro ano, arquejante.