Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 2: II Pág. 72 / 273

Tinha sido escolhido para esse papel por causa da sua estatura e maneiras graves, porque já estava no final do seu segundo ano em Belvedere e em número dois.

Uma vintena de rapazes mais novos, de calções e camisetas brancos saiu, a marchar, do palco, atravessando a sacristia e dirigindo-se à capela. A sacristia e a capela estavam repletas de mestres e rapazes ansiosos. O gordo e calvo sargento-mor experimentava com o pé o trampolim do cavalo de arção. O rapaz magro de longo sobretudo, que iria fazer uma exibição especial de complicado lançamento das maças, encontrava-se perto, observando-o com interesse, com as maças prateadas a sair dos bolsos profundos. Ouviu-se o som cavo dos halteres de madeira, quando outra equipa se preparou para entrar no palco; e, passados momentos, o excitado prefeito estava a empurrar os rapazes através da sacristia, como se guiasse um bando de gansos, agitando nervosamente as abas da sotaina e gritando aos mais lentos que se apressassem. Um pequeno grupo de camponeses napolitanos praticava os seus passos de dança a um canto da capela, alguns rodando com os braços erguidos acima da cabeça, outros agitando os seus cestos de violetas de papel e fazendo vénias. Num recanto escuro da capela, do lado do altar onde se colocava o Evangelho, estava ajoelhada uma senhora idosa e forte, entre as suas abundantes saias negras. Quando se levantou, ficou à vista uma figura vestida de cor-de-rosa, com uma cabeleira dourada e encaracolada e um chapéu de palha antiquado, sobrancelhas sublinhadas a preto e faces delicadamente cobertas de carmim e pó-de-arroz. Um abafado murmúrio de curiosidade percorreu a capela, quando se descobriu a figura feminil. Um dos prefeitos, sorrindo e abanando a cabeça, aproximou-se do recanto escuro e, tendo feito uma vénia à senhora idosa e forte, disse, com um sorriso simpático:

- É uma bonita menina ou uma boneca que aí tem, Mrs.





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