As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 26 / 339

Tinha em tão grande apreço a minha generosidade e sentido de justiça que os deixava a meu cuidado. Qualquer coisa que encontrassem ser-me-ia devolvida ao abandonar o país ou pagá-la-iam ao preço que indicasse. Peguei em dois oficiais e meti-os nos bolsos da jaqueta, para que iniciassem a revista aos bolsos, com a excepção de duas aberturas e de um bolsinho secreto que não queria submeter a revista, dado que nele guardava um ou outro artigo que só eu podia necessitar. Numa das aberturas guardava um relógio de prata e, na outra, uma carteira com algum ouro. Estes senhores, munidos de papel, tinteiro e pena, elaboraram um inventário completo de tudo o que encontraram; e, uma vez terminado, pediram para os pôr no chão, para o entregar ao imperador. Pouco depois, verti-o para inglês e apresento-o, a seguir, literalmente:

«IMPRIMIS: No bolso direito do Grande Homem-Montanha (assim interpreto a expressão QUINBUS FLESTRIN), depois de uma busca bastante minuciosa, encontrámos tão-só um grande pedaço de lenço grosseiro, que bem poderia servir, pelo seu tamanho, como tapete no salão régio de Sua Majestade. No esquerdo descobrimos um enorme cofre de prata com tampa do mesmo metal que nós, inspectores, fomos incapazes de levantar. Queríamos abri-lo, pelo que um de nós entrou nele e viu-se coberto por uma espécie de pó até meio de perna. Levantou-se uma baforada que nos chegou ao rosto e nos fez espirrar várias vezes. No bolso do colete descobrimos um fardo enorme de coisas brancas e finas, sobrepostas e com a dimensão aproximada de três homens. Essas coisas estavam apertadas por um cordel grosso e mostravam sinais negros que, na nossa modesta opinião, bem poderiam ser dizeres com letras tão grandes como metade da palma da mão.