As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 271 / 339

Respondi-lhe que eram muito numerosos; pastavam nos campos durante o Verão e recolhiam a cavalariças durante o Inverno, sendo alimentados com forragem e aveia; os criados yahoos ocupavam-se em escová-los, pentear-lhes as crinas, cuidar-lhes dos cascos, preparar-lhes os alimentos e a arranjar-lhes o local em que dormiam. «Compreendo-te perfeitamente disse o meu dono. Torna-se evidente, depois de tudo o que contaste que, por mais racionais que pretendam ser os yahoos, os houyhnhnms são os seus amos. De todo o coração bem gostaria que os nossos yahoos fossem igualmente dóceis.» Solicitei a Sua Excelência que me permitisse prosseguir o relato, pois estava convencido de que o resto seria muito desagradável. Mas insistiu e ordenou-me que o informasse de todos os aspectos positivos e negativos. Disse-lhe que assim faria. Assegurei-lhe, pois, que os houyhnhnms, a que nós chamamos cavalos, eram os animais mais nobres e belos que tínhamos; não havia outros em força e rapidez; as pessoas de posição utilizavam-nos para viajar, correr, puxar carruagens; eram tratados com muito cuidado e esmero até que ficavam doentes ou perdiam vigor nos seus membros; quando isso acontecia, eram postos à venda ou usados em trabalhos pouco nobres até que morriam. Eram, por fim, esfolados, a pele vendida e os corpos serviam de alimento aos cães e às aves de rapina. Mas os cavalos de raça vulgar não eram tão afortunados. Os seus amos, lavradores, carregadores e outra gente de baixa condição, sobrecarregavam-nos de trabalho e alimentavam-nos mal. Descrevi-lhe, da melhor forma possível, o nosso modo de montar, a forma e o emprego das rédeas, selas, esporas, chicotes, arreios e rodas. Acrescentei que fixávamos às extremidades dos seus membros lâminas de ferro, uma substância muito dura, para protecção da sua integridade física nos caminhos empedrados que amiúde utilizávamos.




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