Tufão - Cap. 2: II Pág. 27 / 103

Embarcam numa emergência, não se afeiçoam a nenhum navio, vivem na sua própria atmosfera de relação ocasional com os camaradas de bordo que não sabem nada a respeito deles, e decidem ir-se embora nos momentos mais inconvenientes. Desembarcam sem se despedirem em qualquer porto remoto onde outros homens teriam pavor de encalhar, e vão para terra na companhia de um desmantelado cofre de bordo, amarrado com uma corda como se contivesse um tesouro, e com o ar de quem sacode dos pés a poeira do navio.

- Espere e verá - repetiu, oscilando em grandes balanços, de costas para Jukes, imóvel e implacável.

- Você quer dizer que o vamos apanhar a sério? perguntou Jukes com juvenil interesse.

- Dizer?.. Eu não disse nada. Você não me apanha - latiu o minúsculo segundo-piloto, com uma mescla de orgulho, desprezo e astúcia, como se a pergunta de Jukes contivesse uma armadilha inteligentemente detectada. - Oh não! Nenhum de vocês pense que consegue apanhar-me em falso - murmurou ele em surdina.

Jukes reflectiu rapidamente que este segundo-piloto era uma bestinha reles. E no fundo do coração desejou que o pobre Jack Allen nunca se tivesse espetado no fundo da barcaça do carvão. A escuridão remota à proa do navio era como outra noite vista através da noite estrelada da Terra - a noite sem estrelas das imensidades para além do universo criado, revelada na sua pavorosa imobilidade através de uma racha na base da esfera rutilante de que a Terra era o núcleo.

- Seja o que for que possa haver por aí - disse Jukes - estamos a rumar direitos para lá.

- Foi você que o disse - atalhou o segundo-piloto, continuando de costas para Jukes. - Repare que foi você que o disse... eu não disse nada.

- Oh, vá para o Diabo - disse Jukes, sem rodeios; e o outro emitiu uma risadinha triunfante.





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