A Confissão de Lúcio - Cap. 9: CAPÍTULO 7 Pág. 81 / 93

CAPÍTULO 7

Outubro de novecentos principiara.

Uma tarde, no Bulevar des Capucines, alguém de súbito me gritou, batendo-me no ombro:

- Ora até que enfim! Andava exatamente à sua procura…

Era Santa-Cruz de Vilalva, o grande empresário.

Tomou-me por um braço, fez-me à viva força sentar junto dele no terraço do La Paix, e pôs-se a barafustar-me o espanto que a minha falta de notícias lhe causara, tanto mais que, poucos dias antes de desaparecer, eu lhe falara da minha nova peça. Disse-me que em Lisboa muita gente perguntava por mim, que apenas vagamente se sabia que eu estava em Paris por alguns portugueses que tinham vindo à Exposição. Em suma: "Que demónio era isso, homem? neurasténico pelo último correio?…"

Como sucedia sempre quando alguém me fazia perguntas sobre a minha forma de viver, fiquei todo perturbado - corei e titubeei quaisquer razões.

O grande empresário atalhou, exclamando-me:

- Bom. Mas antes de mais nada, vamos ao importante: Dê-me a sua peça.

Que não a concluíra ainda, que não me satisfazia…

E ele:

- Espero-o esta noite no meu hotel… ali, no Scribe…

Traga-me a obra. Quero ouvi-la hoje… Que título?

- A Chama.

- Ótimo. Até logo… Primeira em Abril. Última récita de assinatura. Preciso fechar a minha estação com chave de ouro…

* * *

Fora-me muito desagradável o encontro que viera pôr termo ao meu isolamento de há seis meses. Porém, ao mesmo tempo, no fundo, a verdade é que eu não o lastimava. Sempre a literatura…

Desde que chegara a Paris, não escrevera uma linha nem sequer já me lembrava de que era um escritor… E agora, de súbito, vinham-me recordá-lo - evidenciando o apreço em que se tinha o meu nome; e precisamente alguém que eu sabia tão pouco lisonjeiro, tão brusco, tão homem-de-negócios…

* * *

À noite, como se combinara, li o meu drama.





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