O Retrato de Dorian Gray - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 113 / 335

- Nem uma só palavra do que disse, Henry, corresponde ao seu pensamento; você bem o sabe. Se Dorian Gray estragasse a sua vida, ninguém o lastimaria mais. Você é muito melhor do que finge ser.

Lord Henry riu-se.

- A razão por que todos nós gostamos de pensar tão bem dos outros é que todos receamos por nós mesmos. A base do optimismo é o mero terror. Pensamos que somos generosos porque atribuímos ao nosso vizinho a posse daquelas virtudes em que vemos probabilidade de redundarem em nosso benefício. Elogiamos o banqueiro para podermos alargar os nossos saques e descobrimos boas qualidades no salteador da estrada na esperança de que ele nos poupe as algibeiras. Tudo o que eu disse está no meu pensamento. Tenho o maior desprezo pelo optimismo. Quanto a estragar a vida, não há vida estragada senão aquela cuja expansão é detida. Se você quiser estragar uma natureza, tem simplesmente de reformá-la. Pelo que respeita ao casamento, seria, é claro, um disparate; mas há entre o homem e a mulher outros laços, e mais interessantes. Hei-de certamente estimulá-los. Têm o encanto de ser elegantes. Mas aí está o Dorian em pessoa. Ele explicará isso melhor.

- Meu caro Henry, meu caro. Basil, têm de me dar os parabéns! - disse o jovem, tirando a capa de bandas de cetim e apertando as mãos dos amigos. - Nunca fui tão feliz! É claro que foi repentino. São assim todas as coisas verdadeiramente deliciosas. E, contudo, parece-me ser a única coisa que eu tenho andado toda a vida procurando.





Os capítulos deste livro