Saiu do quarto e começou a subir. Basil Hallward seguia logo após. Caminhavam de mansinho como instintivamente se caminha de noite. O candeeiro projectava sombras fantásticas nas escadas e na parede. O vento fazia ranger as janelas.
Ao chegarem ao último patamar, Dorian pousou o candeeiro no chão e, tirando do bolso a chave, meteu-a na fechadura.
- Insiste em saber, Basil? - perguntou em voz baixa.
- Insisto.
- Folgo muito - respondeu sorrindo. Depois acrescentou, com certa aspereza - Você é o único homem no mundo que tem direito a saber tudo a meu respeito. Desempenhou na minha vida um papel mais importante do que julga. Pegando de novo no candeeiro, abriu a porta e entrou. Uma fria corrente de ar fez vacilar a luz, que se amorteceu numa chama alaranjada. Dorian estremeceu.
- Feche a porta - murmurou, pousando o candeeiro na mesa.
Hallward relanceou os olhos em roda, deveras intrigado. O quarto parecia não ter sido habitado havia muitos anos. Uma tapeçaria flamenga, já desbotada, um quadro velado por uma cortina, um velho cassone italiano e uma estante quase vazia - era tudo o que o quarto parecia conter, além duma mesa e uma cadeira. Quando Dorian acendeu uma vela já meio ardida que estava no rebordo do fogão, viu que tudo estava coberto de pó e que o tapete se achava todo esburacado.