Quando acordou, passava já muito do meio-dia.
O criado já várias vezes viera em bicos de pés ver se ele estava desperto, e, admirado, não sabia por que motivo o patrão dormia até tão tarde. Finalmente retiniu a campainha. Victor entrou de mansinho, com uma chávena de chá e um montão de cartas, num pequeno tabuleiro de velha porcelana de Sévres, e afastou os cortinados de cetim cor de azeitona, forrados de azul, que guarneciam as três janelas.
- V. Exª dormiu bem esta manhã - disse o criado, sorrindo.
- Que horas são, Victor? - perguntou Dorian Gray, sonolentamente.
- Uma hora e um quarto.
Que tarde era! Sentou-se na cama, e, tendo sorvido uns goles de chá, pegou nas cartas. Uma era de Lord Henry, e havia sido trazida de manhã por mão própria. Hesitou por um momento, e depois pô-la de parte. Abriu as outras indiferentemente. Continham a habitual colecção de cartões, convites para jantar, bilhetes para exposições particulares, programas de concertos de caridade e quejandos, que, durante a temporada, todas as manhãs chovem sobre os rapazes elegantes.