Começava a cair uma chuva fria, e os candeeiros bruxuleantes zebravam o nevoeiro de clarões fantásticos. Estavam a fechar as tabernas, a cujas portas se aglomeravam vagos grupos de homens e mulheres. Dalgumas irrompiam gargalhadas horríveis, noutras ébrios berravam e vociferavam.
Recostado no hansom, com o chapéu derrubado sobre a testa, Dorian Gray observava com olhos indiferentes a sórdida vergonha da grande cidade, e, de vez em quando, repetia de si para si as palavras que Lord Henry lhe dissera no primeiro dia em que se encontraram: «Curar a alma por meio dos sentidos, e os sentidos por meio da alma. Sim, era esse o segredo. Muitas vezes o experimentara já, e de novo o ia agora experimentar. Havia antros de ópio, onde se podia comprar o esquecimento, antros de horror onde, pela loucura de pecados novos, se podia apagar a recordação dos pecados velhos.
No céu a lua, muito baixa, parecia uma caveira amarela. De quando em quando, uma enorme nuvem deformava-se, estirava-se e escondia-a. Os candeeiros iam rareando e as ruas eram agora mais estreitas e soturnas.
Uma vez o cocheiro enganou-se no caminho e teve de retroceder meia milha. O cavalo fumegava. As vidraças do carro estavam embaciadas duma névoa pardacenta.