- É inútil dizer-me que vai doravante ser bom - exclamou Lord Henry, molhando os alvos dedos numa taça de cobre cheia de água de rosas. - Você é absolutamente perfeito. Não mude, peço-lhe.
Dorian Gray abanou a cabeça.
- Não, Henry, tenho na minha vida feito coisas terríveis. Não quero continuar a fazê-las. Iniciei ontem as minhas boas acções.
- Onde esteve ontem?
- No campo, Henry. Estive sozinho numa pequena estalagem.
- Meu caro - disse, sorrindo, Lord Henry -, no campo qualquer pessoa pode ser boa. Não há lá tentações. É essa a razão por que as pessoas que vivem fora da cidade são absolutamente incivilizadas. A civilização não é de modo algum coisa facilmente atingível. Há apenas dois processos de nos civilizarmos: um é a cultura, o outro é a corrupção. Nem um nem outro estão ao alcance de toda a gente do campo: por isso estagna.
- Cultura e corrupção - repetiu, como num eco, Dorian. - Conheci algo duma e doutra. Parece-me agora terrível que sempre se encontrem juntas. Pois tenho um novo ideal, Henry. Vou modificar-me. Penso que já me modifiquei.
- Ainda não me disse em que consistiu a sua boa acção. Ou disse que fez mais do que uma? - perguntou o seu companheiro, espalhando no prato uma pequena pirâmide carmesim de morangos e polvilhando-os de açúcar.