No dia seguinte não saiu de casa, passando a maior parte do tempo no seu quarto, obsidiado por um terror alucinado de morrer, e, todavia, indiferente à vida... Começara a dominá-lo a consciência de andar acossado, perseguido, espiado. Se, por acaso, sacudido pelo vento, um reposteiro bulia, já ele tremia todo. As folhas secas que o vento atirava de encontro aos vidros das janelas afiguravam-se-lhe as suas resoluções dissipadas e os seus loucos pesares. Quando cerrava os olhos, via de novo a cara do marinheiro espreitando através do vidro embaciado, e o horror parecia mais uma vez empolgar-lhe o coração.
Mas talvez houvesse apenas sido a sua imaginação que fizera surgir a vingança das trevas da noite e lhe pusera ante os olhos a hedionda personificação do castigo. A vida real era um caos, mas havia na imaginação alguma coisa terrivelmente lógica. Era a imaginação que lançava o remorso no rastro do pecado. Era a imaginação que fazia com que cada crime gerasse as suas monstruosas consequências. No mundo vulgar da realidade os maus não eram castigados, nem os bons eram premiados. Os fortes triunfavam, os fracos só conheciam o insucesso. Nada mais.
Além disso, se algum desconhecido rondasse nas imediações da casa, teria sido visto pelos criados ou pelos guardas.