Às doze e meia do dia seguinte, Lord Henry Wotton dirigiu-se da Rua Curzon à Albany, a fim de visitar seu tio, Lord Fermor, velho soldado, jovial, mas rude de maneiras, a quem os que não eram da sua roda chamavam egoísta, porque dele nenhum' benefício colhiam, mas que era considerado generoso pela sociedade, visto dar de comer às pessoas que o divertiam.
Seu pai tinha sido embaixador da Inglaterra em Madrid, quando a rainha Isabel era jovem e se não pensava em Prim, mas havia-se retirado do serviço diplomático num caprichoso momento de aborrecimento por lhe não oferecerem a embaixada de Paris, lugar a que se considerava com pleno direito pela sua estirpe, pela sua indolência, pelo bom inglês dos seus ofícios e pela sua desregrada paixão pelos prazeres.
O filho, que fora secretário do pai, resignara juntamente com este, um tanto levianamente, como então se pensou, e, sucedendo-lhe alguns meses depois no título, aplicara-se ao sério estudo da grande arte aristocrática de não fazer absolutamente nada. Tinha duas grandes casas na cidade, mas preferia habitar em quartos alugados, por ser menos incómodo, e tomava a maior parte das refeições no seu clube. Dedicava alguma atenção à administração das suas minas de carvão nos condados de Midland, desculpando-se desta pecha industrial com a razão de que a única vantagem de possuir carvão era que isso lhe assegurava a regalia de queimar lenha no seu lar.