O Retrato de Dorian Gray - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 22 / 335

Devo declarar-lhe que ela nunca me disse que ele era um bonito rapaz. As mulheres não têm critério de beleza; pelo menos não o têm as boas mulheres. Disse-me que era muito sério e tinha uma bela índole. Imaginei imediatamente um indivíduo de óculos e cabelo corredio, horrivelmente sardento e de pés enormes. Tenho pena de não saber que era o seu amigo.

- Estimo muito que o não soubesse.

- Porquê?

- Não quero que se encontre com ele.

- Não quer que eu me encontre com ele?

- Não!

- Está o Sr. Dorian Gray no atelier - disse o criado, entrando no jardim.

- Agora tem de me apresentar - exclamou, rindo, Lord Henry.

O pintor voltou-se para o criado e disse:

- Peça ao Sr. Gray a fineza de esperar uns minutos.

Depois olhou para Lord Henry e disse:

- Dorian Gray é o meu amigo mais dilecto. É duma natureza simples e bela. Sua tia foi inteiramente justa no que dele disse. Não mo estrague! Não busque influenciá-lo. A sua influência seria perniciosa. O mundo é muito vasto, há nele muitas pessoas maravilhosas. Não me roube a única pessoa que dá à minha arte todo o encanto que ela possui; a minha vida como artista depende dele. Cuidado, Henry, confio em si.

Falava muito lentamente, e as palavras pareciam coar-se-lhe dos lábios quase contra sua vontade.

- Que disparates está aí a dizer! - respondeu Lord Henry, sorrindo, e, tomando Hallward pelo braço, quase o arrastou para dentro de casa.





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