E, contudo, se fora apenas uma ilusão, que terrível era pensar que a consciência podia elaborar tão medonhos fantasmas, dar-lhes forma visível, fazê-los mover-se ante os nossos olhos! Que vida iria ser a sua, se, dia e noite, as sombras do seu crime o espreitassem dos recantos silenciosos, escarnecessem dos lugares secretos, lhe cochichassem ao ouvido no meio duma festa, o despertassem com dedos álgidos, quando estivesse a dormir! Quando este pensamento se lhe insinuava no cérebro, empalidecia de terror, e o ar parecia-lhe arrefecer de repente. Oh! em que desvairada hora de loucura matara o seu amigo! Como o espavoria só o recordar-se da cena! Via-a de novo em todas as suas minudências, que, ao evocá-las, mais horrorosas ainda se lhe afiguravam. Da negra caverna do Tempo, surgia a imagem do seu pecado, terrível e envolta em panos escarlates. Quando, às seis horas, Lord Henry chegou, encontrou-o a chorar, como se o coração se lhe estivesse partindo.