O Retrato de Dorian Gray - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 307 / 335

- No mundo, Dorian, só há uma coisa terrível: é o tédio. É o único pecado para que não há perdão. Mas não é provável que nos venha a afligir, a não ser que esta gente, ao jantar, se ponha a falar do acontecido. Tenho de lhes dizer que é assunto proibido. Quanto a presságios, é coisa que não existe. O destino não nos envia arautos. Tem senso demasiado ou crueldade demasiada para tal fazer. Demais a mais, que lhe poderia acontecer, Dorian? Você tem tudo o que a um homem pode apetecer. Não há ninguém que se não sentisse feliz em trocar o lugar pelo seu.

- Não há ninguém com quem eu não quisesse trocar o meu lugar, Henry. Não se ria assim! Digo-lhe a verdade. O desgraçado campónio que há bocado morreu está melhor do que eu. Não é a Morte que me aterra. O que me aterroriza é a aproximação da Morte. As suas asas monstruosas parecem pairar sobre mim no ar plúmbeo. Meu Deus! Não vê um homem acolá, por trás das árvores, espreitando-me, esperando-me?

Lord Henry olhou na direcção que a mão enluvada lhe apontava, tremendo.

- Sim, vejo -respondeu sorrindo.- É o jardineiro que está à sua espera. Creio que lhe quer perguntar que flores deseja esta noite na mesa. Meu caro, que nervoso você está! Quando regressar à cidade, deve ir consultar o meu médico.





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