O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 315 / 335

- E chorar por um Florizel infiel - disse Lord Henry, rindo e recostando-se na sua cadeira. - Meu caro Dorian, tem procedimentos verdadeiramente infantis. Pensa que essa rapariga se poderá agora contentar com qualquer rapaz da sua igualha? Talvez venha um dia a casar com um grosseiro carreiro ou um achamboado lavrador. Muito bem, o facto de o ter encontrado a você, e de o ter amado, ensiná-la-á a desprezar o marido: será uma infeliz. Sob o ponto de vista moral, não posso dizer que eu aprecie muito a sua grande renúncia. Mesmo como início, é pobre. Além disso, sabe lá você se a Hetty não estará neste momento boiando, à luz das estrelas, em algum lago, rodeada, como Ofélia, de mimosos nenúfares?

- É insuportável, Henry! Zomba de tudo e depois sugere as mais sérias tragédias. Lamento ter-lho contado. Não me importo do que me diz. Sei que procedi bem fazendo o que fiz. Pobre Hetty! Quando, esta manhã, passei a cavalo pela sua casa, vi-lhe, à janela, o rosto branco como um ramo de jasmins. Não falemos mais disso, e não tente persuadir-me de que a primeira acção boa que, no decurso de tantos anos, eu fiz, o primeiro bocadinho de sacrifício pessoal que jamais conheci, é, na realidade, uma espécie de pecado. Quero ser melhor. Vou tornar-me melhor. Diga-me alguma coisa a seu respeito. Que há de novo na cidade? Há dias que não vou ao clube.





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