Tem alguma razão? Que esquisitos vocês são, os pintores! Fazem tudo para criarem fama. Apenas a têm, parecem apostados em a atirarem fora. É uma tolice, pois só há no mundo uma coisa pior do que falarem de nós: é ninguém de nós falar. Um retrato como este colocá-lo-ia muito acima de todos os jovens de Inglaterra e causaria inveja a todos os velhos, se é que os velhos são capazes de qualquer emoção.
- Bem sei que se há-de rir de mim - replicou ele mas o facto é que não o posso expor. Pus nele demasiado de mim mesmo.
Lord Henry estirou-se no divã e desatou a rir.
- Sim, já sabia que se havia de rir; mas é absolutamente certo, no entanto.
- Demasiado de si mesmo! Palavra de honra, Basil, não sabia que fosse tão vaidoso; e, na verdade, nenhuma semelhança posso ver entre você, com a sua cara forte e enrugada e o cabelo preto como carvão, e este jovem Adónis, que parece feito de marfim e pétalas de rosa. Ele, meu caro Basil, é um Narciso, e você, claro está, tem uma expressão intelectual. Mas a beleza, a verdadeira beleza, termina onde começa a expressão intelectual. A inteligência é em si um modo de exagero e destrói a harmonia do rosto. Quando uma pessoa se senta para pensar, torna-se toda nariz, ou toda testa, ou alguma coisa horrenda.