O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 11 / 158

Quando não estava a aprender, estendia-se ao sol, dormia, comia e voltava a adormecer; quando se sentia sujo ou encalmado, nadava nos lagos da floresta; e quando queria mel (Bálu disse-lhe que o mel e as nozes eram tão. saborosos como a carne crua) trepava a buscá-lo, como Bàguirà lhe ensinara. Bàguirà estendia-se na ponta de um ramo e chamava:

- Vem daí, irmãozinho. - E, a princípio, Máugli agarrava-se como uma lesma, mas depois caminhava por entre os ramos quase tão ousadamente como o macaco cinzento. Tomava lugar também na Rocha do Conselho, quando a alcateia se reunia, e aí descobriu que, se fitasse bem qualquer lobo, este era obrigado a desviar a vista e por isso habituou-se a fitá-los para se divertir. Outras vezes tirava compridos espinhos das patas dos amigos, pois os lobos sofrem terrivelmente com os espinhos e com os ouriços no pêlo. De noite, descia a encosta até às terras aráveis e observava com curiosidade os aldeões nas suas choupanas, mas desconfiava muito dos homens, porque Bàguirà lhe mostrara uma caixa quadrada com uma porta cadente tão habilmente disfarçada na Selva que quase se metera nela, e lhe dissera que era uma armadilha. Acima de tudo gostava de acompanhar Bàguirà para o interior tépido e sombrio da floresta, passar o calor do dia a dormir e a noite a ver Bàguirà a caçar. Bàguirà matava a torto e a direito, quando tinha fome, e o mesmo fazia Máugli, com uma única excepção. Assim que atingiu a idade da razão, Bàguirà disse-lhe que nunca devia tocar num boi, porque fora admitido na alcateia pelo preço da vida de um touro.

- Toda a Selva é tua - disse Bàguirà - e podes matar tudo quanto as tuas forças te permitam, mas, por amor daquele touro que te serviu de resgate, não podes matar ou comer qualquer bovino velho ou novo.





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