- Não, mas nós temos de puxar as peças - disseram os bois.
- Bem sei, e sei que sois muito mais valentes do que pensais. Mas comigo é diferente. O capitão da bateria chamou-me outro dia Anacronismo Paquidérmico.
- Isso é outra maneira de combater, presumo eu? - disse
Biddy, que estava a recobrar ânimo.
- Tu não sabes, naturalmente, o que isso significa, mas sei-o eu. Significa nem cá nem lá e é precisamente aí que eu me encontro. Vejo cá dentro da cabeça o que acontece quando uma granada rebenta, e vós, bois, não o vedes.
- Eu vejo - disse o cavalo de esquadrão. - Um bocadinho, pelo menos, mas procuro não pensar nisso.
- Eu vejo mais do que tu e penso nisso. Sei que tenho muito por que olhar e sei que ninguém é capaz de curar-me quando estou doente. Tudo quanto sabem fazer é suspender o salário ao meu condutor até que eu melhore e nesse não tenho eu confiança.
- Ah! - disse o cavalo do regimento. - Isso explica o caso. Eu confio em Ricardo.
- Podiam pôr-me em cima um regimento inteiro de Ricardos sem que me sentisse nada diferente. Sei apenas o bastante para me sentir incomodado, e não o bastante para avançar, apesar disso.
- Não percebemos - disseram os bois.
- Bem o sei, não falo convosco. Vós não sabeis o que seja sangue.
- Isso é que sabemos - afirmaram os bois. - É coisa vermelha que se some na terra e que cheira.
O cavalo do regimento deu um coice, um pinote e um bufo.
- Não faleis disso - suplicou. - Já estou a cheirá-lo só de pensar nele. Dá-me vontade de correr quando não levo o Ricardo em cima.
- Mas aqui não o há - disseram o camelo e os bois. Porque és assim tão estúpido?
- É coisa repugnante - insistiu Biddy. - Não quero correr, mas não quero falar nele!
- Ora aí tendes! - disse Dois Rabos, agitando a cauda para explicar.