O Livro da Selva - Cap. 7: SERVIDORES DE SUA MAJESTADE Pág. 148 / 158

Imaginai os sentimentos de Sunol se um cavalo de tiro lhe chamasse «patim», e podeis calcular como o cavalo australiano ficaria. Vi-lhe brilhar nas trevas o branco dos olhos.

- Ouve cá, sua filha de um asno importado de Málaga - disse por entre dentes. - Quero que saibas que do lado materno sou parente de Carbine, vencedor da taça de Melburne, e na terra de onde venho não estamos habituados a ser apatanhados grosseiramente por qualquer mula palradora, de cabeça de porco de uma bateria de zarabatanas. Estás pronta?

- Põe-te a pino - guinchou Biddy. Ambos se empinaram frente a frente e eu esperava uma luta feroz, quando se ouviu da direita, vindo das trevas, uma voz gorgolhante e trémula:

- Meninos, porque estais aí a bulhar? Estai quietos. Ambos os brutos se deixaram vir ao chão com um ronco de aborrecimento, pois nem cavalo nem mula suportam a voz do elefante.

- É Dois Rabos! - disse o cavalo do regimento. - Não posso com ele. Um rabo de cada lado não é justo!

- É exactamente o que eu sinto - acrescentou Biddy, chegando-se para o cavalo em busca de companhia. - Nalgumas coisas somos muito parecidos.

- Calculo que as teremos herdado de nossas mães - disse o cavalo militar. - Não vale a pena discuti-las. Olá, Dois Rabos, estás amarrado?

- Estou - respondeu Dois Rabos com um risinho que lhe subiu pela tromba. - Estou preso à estaca para a noite. Ouvi o que tendes estado a dizer. Mas não tenhais medo, não vou para aí.

Os bois e o camelo disseram a meia voz:

- Medo de Dois Rabos? Que disparate! - E os bois prosseguiram:

- Lamentamos que tenhas ouvido, mas é verdade. Dois Rabos, porque é que tens medo das peças quando disparam?

- Ora - disse Dois Rabos, esfregando uma perna traseira na outra, exactamente como um rapazinho a recitar poesia.





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