- Estais a ouvir?
- Decerto. Temos estado aqui toda a noite - disseram os bois.
Dois Rabos deu tal patada no chão que a argola de ferro que trazia na pata tilintou.
- Oh, não estou a falar para vós. Vós não vedes dentro da cabeça.
- Não. Nós vemos com os nossos quatro olhos - disseram os bois. - Vemos à nossa frente, a direito!
- Se eu fosse capaz de fazer isso e nada mais, não seríeis precisos para puxar os grandes canhões. Se eu fosse como o meu capitão... Ele vê as coisas dentro da cabeça antes de começar o fogo e treme todo, mas sabe de mais para fugir -, se eu fosse como ele podia puxar as peças. Mas se eu fosse tão esperto como isso, não estaria aqui. Seria um rei da floresta, como era dantes, dormindo metade do dia e banhando-me quando queria. Há um mês que não tomo um banho decente.
- Isso é tudo muito lindo - disse Biddy -, mas o dar a uma coisa um nome comprido não a torna melhor.
- Pchiu! - disse o cavalo do regimento. - Parece-me que entendo o que Dois Rabos quer dizer.
- Entenderás melhor dentro de um minuto - respondeu Dois Rabos, zangado. - Ora, explica-me a razão por que não gostas disto!
E pôs-se a urrar com fúria, com quanta força tinha.
- Pára lá com isso! - disseram Biddy e o cavalo do regimento ao mesmo tempo. E eu ouvia-os bater com as patas no chão e estremecer. O urrar de um elefante é sempre repugnante, especialmente numa noite escura.
- Não paro - teimou Dois Rabos. - Não me quereis explicar isso, por favor? Hhrrmph! Rrrt! Rrrmph! Rrrhha.
Então parou de repente e ouvi um leve soluço no escuro, soube então que Raposinha me descobrira por fim. Ela sabia tão bem como eu que, se há no mundo uma coisa que o elefante receie mais do que outra, é um cãozinho a ladrar; por isso ela parou a meter medo a Dois Rabos, preso à estaca, e latiu-lhe em volta das grandes patas.