O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 16 / 158

Aí travou, porque ouviu o berro da alcateia a caçar, escutou o mugido de um sâmbar perseguido e o ronco do bicho voltando-se a enfrentar os perseguidores. Ouviram-se depois uivos malévolos e amargos dos lobos novos: «Àquêlà! Àquêlà! O lobo solitário prove a sua força. Dêem lugar ao chefe da alcateia! Salta, Àquêlà!»

O lobo solitário deve ter formado o salto e errado o golpe, pois Máugli ouviu-lhe o estalar dos dentes e a seguir um latido no momento em que o sâmbar o derrubava com a pata dianteira.

Não esperou por mais e continuou a correria; atrás dele os uivos tornavam-se cada vez mais fracos, à medida que se entranhava nas terras de cultura habitadas pelos camponeses. - Bem dizia Bàguirà - disse, ofegante, aninhando-se numa porção de forragem junto à janela de uma choupana. - O dia de amanhã vai ser decisivo, tanto para Àquêlà como para mim!

Depois encostou o rosto à janela a observar o lume da lareira.

Viu levantar-se de noite a mulher do lavrador, a alimentá-lo com blocos negros, e quando chegou a manhã e as névoas eram muito brancas e frias, viu o filho do casal pegar num cesto de verga forrado de barro por dentro, enchê-lo de bocados de carvão em brasa, metê-lo debaixo da sua manta e sair a tratar das vacas no curral.

- É só isto? - disse Máugli. - Se um cachorro o pode fazer, não há nada a recear. - Dobro então a esquina, foi de encontro ao rapaz e tirou-lhe a panela das mãos, desaparecendo na névoa enquanto o rapaz berrava de medo.

- São muito parecidos comigo - disse Máugli, soprando para dentro da panela, como vira fazer à mulher. - Esta coisa morre se lhe não der de comer. - E deitou cascas e raminhos secos na substância rubra. A meio da encosta encontrou Bàguirà, com o orvalho matinal a reluzir-lhe no pêlo como cristais sulfúreos.





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