A Última Aventura de Sherlock Holmes - Cap. 6: A AVENTURA DO DETECTIVE MORIBUNDO Pág. 130 / 210

- Bem, bem, dê-lhe o recado. Que venha de manhã, se quiser. Não estou para interromper o meu trabalho!

Pensei em Holmes retido no seu leito de doente, a contar os minutos, esperando ansiosamente ajuda. Não era altura para cerimónias; a vida de Holmes dependia da minha iniciativa. Antes que o mordomo me desse o recado com um pedido de desculpas, irrompi na sala.

Com uma exclamação de raiva, um homem ergueu-se de uma cadeira de repouso, junto ao lume. Vi um rosto grande, amarelo, gorduroso e grosseiro, de farto queixo duplo, e dois olhos sombrios, ameaçadores, que me fitavam muito abertos por baixo de espessas sobrancelhas cor de areia. Na cabeça calva usava um pequeno boné de fumador, cor-de-rosa, de veludo, posto ao lado com um certo ar atrevido. O crânio era enorme, mas, para meu espanto, verifiquei que o corpo do homem era pequeno e frágil, de ombros metidos para dentro e costas de quem sofrera de raquitismo na infância.

- Que é isto? - exclamou em voz alta e aguda. - Que significa esta intrusão? Não lhe mandei dizer que o recebia amanhã?

- Desculpe - respondi -, mas o assunto não pode esperar. Mr. Sherlock Holmes...

O nome do meu amigo exerceu um efeito extraordinário no homenzinho. A expressão de cólera apagou-se de imediato do seu rosto. As suas feições contraíram-se, alerta.

- Vem da parte de Holmes?

- Acabo de o deixar.

- Que se passa com Holmes? Como está ele?

-A morrer. Foi por isso que vim.

O homem indicou-me uma cadeira e virou-se para novamente se instalar na sua. Ao fazê-lo, vi-lhe de relance a cara no espelho sobre o fogão. Diria que nela se instalara um sorriso perverso e abominável. Convenci-me, no entanto, de que apenas surpreendera uma contracção nervosa, pois logo se voltou para mim com genuína preocupação no rosto.





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