O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 22 / 72

Após o pequeno surto de diversão que tanto alarmou a minha empregada doméstica, sentei-me e raciocinei sozinho. Cheguei à conclusão de que nunca antes tinha sentido o impulso de morder nenhum dos meus criados. Portanto, o impulso tinha sido anormal. Num instante, percebi a verdade. Observei o meu pulso, que tinha dez batidas acima do normal, e os meus reflexos estavam mais rápidos. Invoquei o meu eu mais elevado e mais são, o verdadeiro G.E.c., sentado de forma serena e impregnável atrás de todas as simples perturbações moleculares. Convoquei-o, dizia, para observar as disparatadas partidas mentais que o veneno pregaria. Descobri que eu era, de facto, o mestre. Conseguia reconhecer e controlar uma mente perturbada. Era uma exibição notável da vitória da mente sobre a matéria, pois era uma vitória sobre aquela forma especial de matéria que está mais intimamente relacionada com a mente. Eu quase podia dizer que faltava mente, e que a personalidade a controlava. Assim, quando a minha mulher veio para baixo e senti uma vontade incontrolável de me esconder atrás da porta e assustá-la com um grito selvagem quando ela entrasse, consegui refrear o impulso e cumprimentá-la com dignidade e comedimento. Um desejo avassalador de grasnar como um pato foi dominado da mesma maneira avassaladora. Mais tarde, quando desci para mandar preparar o automóvel, encontrei Austin inclinado sobre ele absorto a efectuar umas reparações, controlei a minha mão aberta depois de a ter erguido, e refreei-me de fazer uma experiência que possivelmente o teria levado a seguir os passos da governanta. Pelo contrário, toquei-lhe no ombro e pedi que o carro estivesse à porta a tempo de chegar à estação à hora do vosso comboio. Neste preciso instante, sinto-me extremamente tentado a puxar a ridícula barbicha do professor Summerlee, e a abanar-lhe violentamente a cabeça para trás e para a frente. E no entanto, como vêem, estou perfeitamente controlado. Deixem-me recomendar-vos o meu exemplo.

- Eu vou ter cuidado com aquele búfalo - disse Lorde John.

- E eu com os jogos de futebol.

- Pode ser que tenha razão, Challenger - declarou Summerlee, numa voz moderada. - Eu estou disposto a admitir que os meus pensamentos são mais críticos do que construtivos, e que não me converto facilmente a uma nova teoria especialmente quando é tão invulgar e fantástica como esta.

Porém, quando penso sobre os acontecimentos desta manhã, e reconsidero a conduta imbecil dos meus companheiros, acho fácil acreditar que um veneno excitante foi responsável pelos seus sintomas.

Challenger deu uma palmada bem-humorada no ombro do seu colega.

- Estamos a progredir - disse ele. - Decididamente, estamos a progredir.





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