- E diga-me, meu caro - perguntou Summerlee -, qual é a sua opinião sobre a situação actual?
- Com a vossa permissão, direi algumas palavras sobre esse assunto. - Sentou-se em cima da secretária, com as pernas fortes e atarracadas a baloiçar à sua frente. - Estamos a assistir a um fenómeno tremendo e horrível. Na minha opinião, é o fim do mundo.
O fim do mundo! Os nossos olhos voltaram-se para a grande janela saliente e observámos a beleza do campo no Verão, as longas encostas de urze, as grandes casas de campo, as quintas acolhedoras. O fim do mundo! Já tínhamos ouvido aquelas palavras muitas vezes, mas a ideia de que elas alguma vez teriam um significado prático imediato, que não seria numa data vaga, mas agora, hoje, era um pensamento tremendo e desconcertante. Ficámos todos muito solenes e esperámos em silêncio que Challenger" continuasse. A sua presença e aparência poderosa emprestavam tamanha força à solenidade das suas palavras que por um momento todas as cruezas e absurdos do homem desapareceram, e ele pairou diante de nós como algo majestoso e para além do alcance da humanidade normal. Depois, para mim pelo menos, ocorreu-me o pensamento alegre de como ele tinha rido às gargalhadas por duas vezes desde que tínhamos entrado naquele aposento. «Seguramente», pensei, «há limites para o alheamento mental. Afinal de contas, as crises não podem ser tão grandes nem tão prementes.»
- Vão pensar num cacho de uvas - disse ele -, que estão cobertas por um bacilo infinitesimal mas nocivo. O jardineiro borrifa-as com um meio desinfectante. Pode ser que deseje que as suas uvas fiquem mais limpas. Pode ser que precise de espaço para criar um bacilo novo e menos nocivo que o último. Mergulha-o no veneno e os bacilos desaparecem. Na minha opinião, o nosso jardineiro está prestes a mergulhar o sistema solar, e o bacilo humano, o pequeno vibrião mortal que se torceu e serpeou no revestimento exterior da terra, será num instante esterilizado e deixará de existir.
Fez-se novo silêncio, que foi quebrado pelo toque estridente da campainha do telefone.
- Aí está um dos nossos bacilos a guinchar para pedir ajuda - disse ele, com um sorriso sombrio. - Estão a começar a perceber que, no fundo, a sua existência continuada não é uma das necessidades do Universo.
Saiu da sala por um minuto ou dois. Recordo-me de que nenhum de nós falou durante a sua ausência. A situação parecia para além de todas as palavras ou comentários.
- Era o delegado de saúde de Brighton - disse ele, quando voltou. - Por algum motivo que desconheço, os sintomas estão a desenvolver-se mais rapidamente ao nível do mar. Os nossos duzentos e cinquenta metros de altitude colocam-nos em vantagem.