O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 26 / 72

Tanto quanto consigo perceber - aqui, olhou de relance para os telegramas -, as raças menos desenvolvidas foram as primeiras a reagir à sua influência. Há relatos deploráveis de África, e os aborígenes australianos parecem já ter sido exterminados. Por enquanto, as raças do norte mostram um poder de resistência maior do que as do sul. Isto, como vêem, está datado de Marselha, às nove e quarenta e cinco desta manhã. Vou lê-lo na íntegra:

»'Durante toda a noite excitação delirante em toda a Provença. Tumulto de vinicultores em Nîmes. Tumulto socialista em Toulon. Doença súbita seguida de coma atacou a população esta manhã. Peste foudroyant. Grandes números de mortos nas ruas. Paralisação dos negócios e caos universal.'

»Uma hora depois, chegou outro da mesma fonte:

»'Somos ameaçados com a exterminação total. Catedrais e igrejas completamente lotadas. Os mortos são mais do que os vivos. É inconcebível e horrível. A doença parece ser indolor, mas rápida e inevitável.'

»Há um telegrama semelhante de Paris, onde a progressão ainda não é tão acentuada. A índia e a Pérsia parecem ter sido completamente devastadas. A população eslava da Áustria está destruída, enquanto a teu tónica quase não foi afectada. Falando em termos gerais, os habitantes das planícies e do litoral parecem, segundo as minhas informações limitadas indicam, ter sentido os efeitos mais rapidamente do que os do interior ou de regiões altas. Até uma pequena elevação faz uma diferença considerável, e se houver um sobrevivente da raça humana, talvez seja encontrado no cume de um Ararat. Até a nossa pequena colina pode revelar-se neste momento uma ilha temporária no meio de um mar de desastre. Mas no nível actual de avanço, dentro de algumas curtas horas ficaremos todos submersos.

Lorde John Roxton limpou a testa.

- O que eu não percebo - disse ele - é como pudemos sentar-nos ali a rir com aquela pilha de telegramas debaixo da sua ritão. Eu já vi a morte com mais frequência do que a maioria das pessoas; mas a morte universal... é terrível!

- Quanto ao riso - disse Challenger -, saberá que, tal como aconteceu com os senhores, eu não estive isento dos efeitos cerebrais estimulantes do veneno etéreo. Mas quanto ao horror que a morte universal parece inspirar-lhe, eu dir-lhe-ia que é um pouco exagerado. Se fosse mandado para o mar sozinho num barco aberto, para um destino desconhecido, o seu coração apertar-se-ia. O isolamento, a incerteza, oprimi-lo-iam. Mas se a viagem fosse feita num bom navio, onde viajassem todos os seus conhecidos e os seus amigos, sentiria que, por muito incerto que o destino ainda se mantivesse, teriam pelo menos uma experiência comum e simultânea que vos levaria até ao fim na mesma comunhão íntima.