O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 35 / 72

Aqui à sombra da morte estava o Challenger mais íntimo, o homem que tinha conquistado e detinha o amor de uma mulher. De repente, a sua disposição mudou e ele tornou-se uma vez mais o nosso forte capitão.

- Fui o único, de toda a humanidade, a prever esta catástrofe - disse ele, com um tom de exultação e triunfo científico na voz. - Quanto a si, meu bom Summerlee, suponho que as suas últimas dúvidas em relação ao significado da desfocagem das linhas no espectro tenham ficado esclarecidas, e que não volte a afirmar que a minha carta no The Times se baseou numa ilusão.

Por uma vez, o nosso pugnaz colega ficou surdo a um desafio. Não pôde fazer outra coisa a não ser ficar sentado a ofegar e a esticar os membros compridos e finos, como se quisesse certificar-se de que ainda estava neste planeta. Challenger dirigiu-se para o tubo do oxigénio, e o som do agudo assobio esbateu-se até não passar de um sibilo suave.

- Temos de poupar o nosso fornecimento do gás - disse ele. - A atmosfera do aposento está agora fortemente hiperoxigenada, e suponho que nenhum de nós sente quaisquer sintomas dolorosos. Só poderemos determinar através de experiências concretas que quantidade acrescentada ao ar servirá para neutralizar o veneno. Vejamos o que acontece.

Ficámos sentados durante cinco minutos ou mais, numa grande tensão nervosa, a observar as nossas próprias sensações.

Eu tinha começado a imaginar que sentia novamente uma constrição à volta das têmporas quando a Sr.ª Challenger avisou, do canapé onde se encontrava, que ia desmaiar. O marido libertou mais gás.

- Em tempos pré-científicos - disse ele -, costumavam levar um rato branco em todos os submarinos, já que o seu organismo mais delicado dava sinais de uma atmosfera viciada antes de esta ser perceptível para os marinheiros. Tu, minha querida, serás o nosso rato branco. Já aumentei a dose e estás melhor.

- Sim, estou melhor.

- Possivelmente, acertámos na mistura correcta. Quando chegarmos a uma conclusão sobre a quantidade mínima de que precisamos, poderemos calcular quanto tempo poderemos existir. Infelizmente, para nos ressuscitarmos já consumimos uma proporção considerável do primeiro tubo.

- Isso importa - perguntou Lorde John, que estava de pé com as mãos nos bolsos, perto da janela. - Se temos de ir, de que adianta aguentarmo-nos? Está convencido de que temos uma hipótese?

Challenger sorriu e abanou a cabeça.

- Bom, então não lhe parece que será mais digno dar o salto e não esperar para ser empurrado? Se assim for, eu acho que devemos rezar as nossas orações, desligar o gás e abrir a janela.

- Por que não? - disse a senhora, corajosamente. -Seguramente, George, Lorde John está certo é será melhor assim.





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