- Eu não posso deixar de me opor fortemente - exclamou Summerlee, num tom de voz rabugento. - Se temos de morrer, então morramos; mas antecipar deliberadamente a morte parece-me um acto disparatado e injustificado.
- Que é que o nosso amigo tem a dizer de tudo isto? - perguntou Challenger.
- Acho que devemos ir até ao fim.
- Eu sou fortemente da mesma opinião - corroborou ele.
- Então, George, se o dizes, é também a minha opinião - exclamou a senhora.
- Bom, bom, eu estou apenas a expor uma ideia para debatermos - disse Lorde John. - Se todos quiserem ir até ao fim, eu estou convosco. É muito interessante, não me interpretem mal. Tive a minha quota de aventuras na vida, e tantas emoções como a maior parte das pessoas, mas estou a acabar no máximo.
- A comprovar a continuidade da vida - disse Challenger.
- Uma grande suposição! - exclamou Summerlee.
Challenger olhou-o numa reprovação silenciosa.
- Ao comprovarmos a continuidade da vida - disse ele, do seu modo mais didáctico -, nenhum de nós pode prever que oportunidades de observação poderemos ter com aquilo a que podemos chamar o espírito plano para o plano da matéria. Deve ser seguramente evidente para a pessoa mais obtusa - (aqui olhou para Summerlee) - que é enquanto nós próprios somos materiais que estamos melhor adaptados para observar e formar uma opinião sobre fenómenos materiais. Portanto, só mantendo-nos vivos estas poucas horas extra é que podemos ter esperança de levar connosco para uma existência futura um conceito claro do acontecimento mais estupendo que o mundo, ou, tanto quanto sabemos, o universo, jamais viveu. Quanto a mim, seria uma coisa deplorável reduzirmos um único segundo de uma experiência tão maravilhosa.
- Eu concordo plenamente - exclamou Summerlee...
- Aceite sem oposição - disse Lorde John. - Caramba, aquele pobre diabo do seu motorista lá em baixo no pátio fez a sua última viagem. Não vale a pena fazer uma surtida e trazê-lo para dentro?
- Seria uma loucura total- exclamou Summerlee.
- Bem, suponho que sim - disse Lorde John. - Não serviria para ajudá-lo e espalharia o nosso gás por toda a casa, mesmo que voltássemos vivos. Céus, olhem para aqueles passarinhos debaixo das árvores!
Puxámos quatro cadeiras para junto da janela comprida e baixa, e a senhora continuou a descansar no canapé com os olhos fechados. Recordo-me de que me passou pela cabeça a ideia grotesca - a ilusão pode ter sido aumentada pelo grande peso do ar que estávamos a respirar - de que estávamos em quatro cadeiras de primeira fila no último acta do drama do mundo.
No primeiro plano imediato, sob os nossos próprios olhos, ficava o pequeno pátio com o carro meio limpo no meio.