O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 40 / 72

- Parece-me que desta vez é a Natureza que está no comando - disse Lorde John, a olhar pela janela. - Li alguns artigos importantes sobre serem os senhores a controlá-la, mas agora ela está a recuperar algum do seu controlo.

- Não passa de um contratempo temporário - disse Challenger, com convicção. - Alguns milhões de anos, que são eles no grande ciclo do tempo? Como vê, o mundo vegetal sobreviveu. Repare nas folhas daquele plátano. Os pássaros estão mortos, mas a planta floresce. Desta vida vegetal no lago e no pântano virão, a seu tempo, as lesmas microscópicas, minúsculas e rastejantes, que são as pioneiras daquele grande exército da vida da qual, neste momento, nós os cinco temos o dever extraordinário de servir de retaguarda. Depois de a mais baixa forma de vida se ter estabelecido, o advento final do Homem é tão certo como o crescimento do carvalho a partir da bolota. O velho círculo dará uma vez mais a volta.

- Mas o veneno? - perguntei eu. - O veneno não vai prender a vida no botão?

- O veneno pode ser um simples estrato ou camada no éter... uma Corrente do Golfo mefítico que atravessa o poderoso oceano em que flutuamos. Ou pode estabelecer-se a tolerância, e a vida acomodar-se a um estado novo. O simples facto de podermos defender-nos do veneno com uma quantidade relativamente pequena de hiperoxigenação do nosso sangue é seguramente a prova de que não seria necessária uma mudança muito grande para que a vida animal pudesse suportá-lo.

A casa de onde saía fumo no meio das árvores estava em chamas. Víamos as altas línguas de fogo a subir pelo ar.

- É bastante horrível - balbuciou Lorde John, e eu nunca o tinha visto tão impressionado.

- Bem, afinal de contas, que importa? - comentei eu.

- O mundo está morto. A cremação é, seguramente, o melhor enterro.

- A nossa vida seria encurtada se esta casa se incendiasse.

- Eu previ o perigo - disse Challenger -, e pedi à minha mulher que se precavesse contra ele.

- Tudo está bastante seguro, querido. Mas a minha cabeça está a começar novamente a latejar. Que atmosfera terrível!

- Temos de a alterar - disse Challenger. Inclinou-se para o seu cilindro de oxigénio. - Está quase vazio - disse ele. - Durou aproximadamente três horas. São agora quase oito horas. Passaremos a noite confortavelmente. Calculo que o fim acontecerá cerca das nove horas da manhã de amanhã. Veremos um nascer do Sol que será apenas nosso.

Ligou o segundo tubo e accionou durante trinta segundos a ventoinha por cima da porta. Depois, quando o ar se tornou perceptivelmente melhor, mas os nossos próprios sintomas mais agudos, desligou-a de novo.

- A propósito - disse ele -, o homem não vive apenas de oxigénio. Já são horas de jantar.





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