Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Capítulo 3

Página 41
Garanto-vos, meus senhores, que quando vos convidei para a minha casa e para o que pensava que seria uma reunião interessante, pretendia que a minha cozinha justificasse a fama que tem. Porém, temos de fazer o que pudermos. Tenho a certeza de que concordam comigo que seria um disparate consumirmos o nosso ar demasiado rapidamente acendendo um fogão a óleo. Eu tenho uma pequena provisão de carnes frias, pão e pickles, que, com duas garrafas de clarete, poderão proporcionar-nos um jantar agradável. Obrigado, minha querida... como sempre, és a rainha das donas de casa.

Foi de facto maravilhosa a forma como, com a dignidade e sentido de conveniência da dona de casa britânica, no espaço de poucos minutos a senhora adornou a mesa central com uma toalha imaculadamente branca, colocou os guardanapos sobre ela, e dispôs a refeição simples com toda a elegância da civilização, incluindo uma lanterna eléctrica no centro. Maravilhoso, também, foi descobrir que os nossos apetites estavam devoradores.

- É a medida da nossa emoção - declarou Challenger, com aquele ar de condescendência com que trazia a sua mente científica para a explicação de factos insignificantes. - Atravessamos uma grande crise. Isso implica perturbação molecular. Isso, por sua vez, implica a necessidade de reparação. O grande desgosto ou a grande alegria provocam uma fome intensa... não a abstinência de comida, como os nossos romancistas pretendem.

- É por isso que as pessoas da província fazem grandes banquetes nos funerais - arrisquei eu.

- Exactamente. O nosso jovem amigo escolheu um exemplo excelente. Deixe-me servir-lhe outra fatia de língua.

- O mesmo acontece com os selvagens - disse Lorde John, cortando a carne de vaca. - Vi-os enterrarem um chefe no Rio Aruwimi, e comeram um hipopótamo que devia pesar tanto como uma tribo inteira. Há algumas tribos na Nova Guiné que comem o próprio defunto, para uma última purificação. Bem, de todos os banquetes de funeral nesta terra, suponho que o que estamos a comer é o mais estranho.

- O mais estranho - disse a Sr.ª Challenger - é que não consigo sentir pena dos que morreram. O meu pai e a minha mãe vivem em Bedford. Sei que estão mortos, e no entanto, no meio desta tremenda tragédia universal, não consigo sentir pena de nenhum indivíduo em concreto, nem sequer deles.

- E a minha velha mãe na sua casinha na Irlanda - disse eu. - Consigo vê-la na minha mente, com o seu xaile e o seu gorro de renda, recostada com os olhos fechados na velha cadeira de costas altas perto da janela, com os óculos e o livro a seu lado. Por que deveria chorar por ela? Ela morreu e eu estou a morrer, e numa outra vida poderei estar mais perto dela do que a Inglaterra da Irlanda. No entanto, tenho pena de pensar que aquele corpo querido já não vive.

<< Página Anterior

pág. 41 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Dia em que o Mundo Acabou
Páginas: 72
Página atual: 41

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 18
Capítulo 3 31
Capítulo 4 44
Capítulo 5 53
Capítulo 6 65