O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 52 / 72

- A quantidade que contêm é variável - esclareceu Challenger -, dependendo da pressão e do cuidado com que foi cheio. Eu sinto-me inclinado a concordar consigo, Roxton, que este está defeituoso.

- Então vamos ser aldrabados nas últimas horas das nossas vidas - comentou Summerlee, amargamente. - Uma ilustração final excelente da era sórdida em que vivemos. Bom, Challenger, chegou agora a sua vez se quiser estudar o fenómeno subjectivo da dissolução física.

- Senta-te no banco junto ao meu joelho e dá-me a mão - disse Challenger para a mulher. - Creio, meus amigos, que não é aconselhável adiar mais nesta atmosfera intolerável. Tu não o desejarias, querida, pois não?

A mulher soltou um pequeno gemido e enterrou o rosto na perna dele.

- Já vi pessoas a tomar banho no Serpentine durante o Inverno - disse Lorde John. - Quando todos estão lá dentro, vêem-se um ou dois a tremer na margem, a invejar os outros que mergulharam. São os últimos que sofrem mais. Eu fui sempre dos primeiros e despachei o assunto.

- Abriria a janela e respiraria o éter?

- É melhor ser envenenado do que asfixiado.

Summerlee acenou em sinal de relutante aquiescência, e estendeu a mão fina para Challenger.

- Tivemos as nossas discussões de vez em quando, mas tudo isso acabou - disse ele. - Fomos bons amigos e no íntimo respeitávamo-nos mutuamente. Adeus!

- Adeus, jovem amigo! - disse Lorde John. - A janela está colada. Não podemos abri-la.

Challenger levantou-se e ergueu a mulher, apertando-a contra o peito, enquanto ela lhe rodeava o pescoço com os braços.

- Dê-me aquele binóculo de campanha, Malone - disse ele, gravemente.

Eu entreguei-lho.

- Entregamo-nos novamente às mãos do Poder que nos criou! - gritou ele na sua voz de trovão, e em seguida atirou o binóculo de campanha pela janela.

Em cheio nos nossos rostos corados, antes de o último tilintar de fragmentos a cair se desvanecer, abateu-se urna rajada de vento que soprava forte e doce.

Não sei quanto tempo estivemos sentados num silêncio embasbacado. Depois, como se fosse um sonho, ouvi uma vez mais a voz de Challenger.

- Voltámos às condições normais - exclamou ele. - O mundo limpou a cintura de veneno, mas de toda a humanidade apenas nós nos salvámos.





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