Eneida - Cap. 1: A Queda de Tróia Pág. 1 / 235

A QUEDA DE TRÓIA

Quebrantados pelo prolongamento da guerra que tinham empreendido contra Tróia, antiga cidade no litoral da Ásia Menor, os gregos reuniram-se em conselho para estudar a decisão a tomar. Havia nove anos que a sua poderosa esquadra de mil navios e cem mil homens aportara àquelas regiões, mas não estavam agora mais perto do objectivo — atacar, saquear, destruir e incendiar a cidade — do que no dia da chegada. As Parcas tinham-lhes sido adversas: Aquiles, o seu príncipe mais temido e vencedor de inúmeros campeões troianos, fora derrubado por uma traiçoeira flechada de Páris, no calcanhar, seu único ponto vulnerável. Ájax suicidara-se e a perda de tantos chefes e soldados reduzira o exército grego a uma sombra do que fora. Também os barcos, de tanto tempo ao seco, na praia, mostravam sinais de desgaste e estariam, em breve, imprestáveis.

Já não tinham esperança de poder conquistar a cidade do rei Príamo por ataque directo. Tinham-no tentado muitas vezes, mas sofreram perdas terríveis ante as altas muralhas da cidadela e a vigorosa defesa dos sitiados, aguerridos e bem treinados na arte de guerrear.

Mas os troianos sofreram, igualmente, pesadas baixas. Heitor, filho do rei Príamo, e o melhor dos seus campeões, fora morro por Aquiles num combate singular. A fina flor da juventude troiana manchara já de sangue aquelas praias.

Reuniram-se os chefes de todas as facções do exército grego, pois este era formado por guerreiros vindos de várias partes da Grécia sob o comando de Agamémnon, rei de Argos. A deusa Minerva, com divina astúcia, incutiu então na mente de um dos príncipes ali reunidos, de nome Epeu, a ideia de que deveriam construir uma enorme estátua de madeira representando um cavalo, no bojo do qual ficariam escondidos cem homens dos mais valentes. Os gregos fingiriam que haviam desistido de conquistar a cidade, levantariam o acampamento e embarcariam nos seus navios, deixando o cavalo na praia para que os troianos o recolhessem para dentro da sua cidadela. A esquadra, entretanto, em vez de retornar à Grécia, ficaria escondida atrás da ilha de Ténedos, próxima dali, e afamada outrora pelas suas riquezas, mas que era agora apenas uma enseada e um ancoradouro pouco seguro. E tudo fizeram rápida e confiantemente.





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