A ASSEMBLEIA DOS DEUSES
Entretanto, abria-se a augusta morada dos deuses no Olimpo e o omnipotente Júpiter a todos convidava para um conselho. Dali se observava todo o Universo e também os acampamentos dos dardanios e dos latinos. Depois das divindades terem tomado os seus assentos, assim lhes falou Júpiter:
— Nobres habitantes do céu, porque mudastes de opinião novamente? Há pouco parecia-me que vos tínheis reconciliado com a descendência de Príamo. Porque lutais com rancores tão acerbos? Eu proibira que os latinos guerreassem ou hostilizassem os recém-vindos troianos. Porquê tal burla à minha proibição? Que causas levaram estes e aqueles povos a procurar a guerra? Não vos apresseis, pois chegará o tempo de uma guerra justa, quando a iracunda Cartago enviar à Itália as suas legiões, que, transpondo os Alpes, espalharão o terror e a aflição por todo o Lácio. Ser-vos-á, então, permitido lutar com ódios e alterar os acontecimentos. Mas agora, enquanto essa época não chega, acalmai os vossos animas e celebras uma aliança.
Quando Júpiter acabou de falar, a linda Vénus levantou-se e assim disse:
— Ó pai, senhor eterno dos homens e dos deuses, és o único aqui a quem é lícito implorar. Vês como os rótulos insultam e como Turno avança impávido entre os seus milhares de guerreiros e corcéis, orgulhoso dos favores que Marte lhe concede. Os troianos já estão ameaçados dentro do próprio entrincheiramento, pois lá se travam combates, e os fossos estão atapetados de cadáveres e inundados de sangue, e Eneias, ignorante do que se passa, continua ausente. É possível, ó pai, que nunca consintas aos troianos o favor de se livrarem de um cerco? Também agora estão outra vez ameaçados os muros da Tróia renascente e outro Aquiles se levanta entre os inimigos. Se foi sem tua permissão que os troianos desembarcaram nas margens do Tibre, que expiem então na guerra o seu pecado! Porém, se aceitando o conselho dos oráculos e os muitos prodígios do céu, lá foram eles ter, de acordo com o que determinaram as Parcas, porque lhes serão modificados agora os destinos? Para quê relembrar a frota incendiado na terra de Acestes?