OS JOGOS FÚNEBRES
Entretanto, os navios troianos sulcavam já o meio do mar escurecido. Voltando-se, Eneias avistou chamas e fumo, elevando-se das muralhas de Cartago. Apesar de desconhecer a causa daquilo, uma terrível suspeita da verdade invadiu-lhe o coração, fazendo-o sofrer, pois sabia bem do que e capaz a alma de uma mulher enlouquecida de amor. Mas logo perderam de vista a terra e de todos os lados o mar imenso cercava-os. Mais uma vez escurecia o céu e chegavam as trevas e as águas agitavam-se. Exclama o piloto Palinuro:
— Ai! Porque é que tão grandes nuvens cercam o céu? Que nos preparas tu, Neptuno?
Mandou logo recolher as velas e guarnecer os remos, continuando:
— Ó magnânimo Eneias, não creio que cheguemos à Itália com este céu, mesmo que fossem os próprios deuses a prometer-mo. O ar condensa-se nuvens e os ventos vindos do poente escuro sopram de través nos nossos barcos. De nada nos adiantará lutar contra os elementos enfurecidos. Melhor seria conformarmo-nos às suas forças e seguirmos para as praias próximas da Sicília, terra de teu irmão Érice, agora governada por Acostes. Acredito que o rumo que seguimos de momento nos levará até ela, antes que decorra muito tempo.
Respondeu-lhe Eneias:
— Vejo, na realidade, que os ventos há muito insistem nisso e que contra eles lutas em vão. Muda a tua rota, pois nenhum lugar me seria mais agradável do que a terra em que Acestes Dardânio me aguarda e onde repousam os restos de meu querido pai Anquises e de meu irmão Érice.