A Harpa do Crente - Cap. 10: A CRUZ MUTILADA Pág. 112 / 117

Para ameigar-te

Este ar húmido e gélido a segure

Não foi ferir do bosque o rei. Do Estio

No ardor canicular nunca disseste:

«Dai-me, sequer, do bravo medronheiro

O desprezado fruto!» O teu vestido

Era o musgo, que tece a mão do Inverno

E Deus criou para trajar as rochas.

Filha do céu, o céu era o seu tecto,

Teu escabelo o dorso da montanha.

Tempo houve em que esses braços te adornava

C’roa viçosa de gentis boninas,

E o pedestal te rodeavam preces.

Ficaste em breve só, e a voz humana

Fez, pouco a pouco, junto a ti silêncio.

Que te importava? As árvores da encosta

Curvavam-se a saudar-te, e revoando

As aves vinham circundar-te de hinos.

Afagava-te o raio derradeiro,

Frouxo do Sol ao mergulhar nos mares,

E esperavas o túmulo. O teu túmulo

Devera ser o seio destas serras,

Quando, em génesis novo, à voz do Eterno

Do orbe ao núcleo fervente, que as gerara,

Elas nas fauces dos volcões descessem.





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