A Harpa do Crente - Cap. 1: A SEMANA SANTA Pág. 18 / 117

No dia do furor, em vão buscaras

Fugir ante o Deus forte,

Quando do arco tremendo, irado, impele

Seta em que pousa a morte.

Mas o que o teme dormirá tranquilo

No dia extremo seu,

Quando na campa se rasgar da vida

Das ilusões o véu.

XIX

Calou-se o monge: sepulcral silêncio

À sua voz seguiu-se. Uma toada

De órgão rompeu do coro. Assemelhava

O suspiro saudoso, e os ais de filha,

Que chora solitária o pai, que dorme

Seu último, profundo e eterno sono.

Melodias depois soltou mais doces

O severo instrumento: e ergueu-se o canto,

O doloroso canto do profeta,

Da pátria sobre o fado. Ele, que o vira,

Sentado entre ruínas, contemplando

Seu avito esplendor, seu mal presente,

A queda lhe chorou. Lá na alta noite,

Modulando o Nébel, via-se o vate

Nos derribados pórticos, abrigo

Do imundo stélio e gemedora poupa.





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