RESIGNAÇÃO
No teu seio, reclinado
Dormirei, Senhor, um dia,
Quando for na terra fria
Meu repouso procurar;
Quando a lousa do sepulcro
Sobre mim tiver caído,
E este espírito afligido
Vir a tua luz brilhar!
No teu seio, de pesares
O existir não se entretece;
Lá eterno o amor florece;
Lá florece eterna paz:
Lá bramir junto ao poeta
Não irão paixões e dores,
Vãos desejos, vãos temores
Do desterro em que ele jaz.
Hora extrema, eu te saúdo!
Salve, ó trevas da jazida,
Donde espera erguer-se à vida
Meu espírito imortal!
Anjo bom, não me abandones
Neste trance dilatado;
Que contrito, resignado,
Me acharás na hora fatal.
E depois... perdoa, ó anjo,
Ao amor do moribundo,
Que só deixa neste mundo
Pouco pó, muito gemer.