O Bobo - Cap. 11: XI - O subterrãneo Pág. 101 / 191

– Ao romper da alva – replicou o cavaleiro – por meio desses vigias e roldas a minha acha de armas abrirá franca passagem aos vinte cavaleiros do solar da Maia. Os que então se opuserem à sua saída – prosseguiu com um sorriso amargo – não terão, juro-vo-lo eu, largo alento para dizer ao conde de Trava: «Gonçalo Mendes, ei- -lo que vai juntar-se com os seus à hoste do infante de Portugal.» Ao menos terei ao partir selado para sempre alguns lábios desses que ousaram proferir o meu nome de envolta com o título de desleal.

– A ousadia – tornou o abade – vos faz parecer fácil tão dificultosa empresa: mas o perigo é imenso. Se no primeiro ímpeto não puderdes salvar as barreiras, estais perdido; e esta tentativa desesperada dará cor de verdade às acusações dos nossos inimigos.

– É necessário sair desta situação violenta – interrompeu o Lidador. – Sei o que significa tão repentino converter do burgo de Guimarães em vasta prisão de homens livres. Quando aí se arrisque a vida, que importa? Estes pulsos não foram feitos para os ferros do senhor de Trava.

– Mas se houvesse um meio – replicou Fr. Hilarião – mais seguro de vos pordes em salvo com os cavaleiros de vossa honra...

– Há! – disse uma voz que parecia soar do chão junto aos pés do monge.

Gonçalo Mendes recuou metendo mão à espada; e ambos procuraram no meio da escuridão descobrir donde partira aquela palavra.

– Quem é que nos escuta? – bradou o cavaleiro.





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