No momento em que parou, Gonçalo Mendes viu ao pé de si um indivíduo, que ele supunha já bem longe de Guimarães.
– Como assim, Odório Fromarigues?! Há mais de uma hora que devíeis ter partido para a terra da Maia. Os anos, meu amo, têm-vos tornado os pés tardos.
A pessoa a quem o Lidador dirigia estas palavras era um velho, pequeno de corpo, magro, olhos como duas ervilhacas, e tez semelhante a um pergaminho de sete séculos amarrotado. Trazia vestido um lorigão negro, e na cabeça um camalho, que, cobrindo-lhe o pescoço até os ombros e circundando-lhe o rosto como a toalha de uma freira, apenas lhe deixava este visível. Aquele trajo militar era o de um simples homem de armas ou acostado de rico-homem; porque o arnês de solhas e o elmo ou capelo de ferro brunido ainda eram armadura demasiado custosa para os que, pelo menos, não pertenciam à classe dos simples cavaleiros.
A resposta do velho às palavras de Gonçalo Mendes, nas quais, posto que proferidas em tom submisso, transluzia o despeito, foi pôr o dedo na boca, fazer-lhe sinal que o seguisse, e encaminhar-se para um dos recantos do pátio onde a escuridade parecia mais profunda.
Odório Fromarigues era o vílico do solar da Maia. O vílico do século XII, quer o fosse do rei, conde, ou senhor supremo, quer de um vassalo poderoso, correspondia não só ao moderno administrador ou mordomo de rico fidalgo, mas também representava a autoridade administrativa e ainda em certos casos a judicial, dentro dos limites da honra, préstamo ou senhorio respectivo. Era ele quem por via de regra fazia o alardo, e muitas vezes capitaneava na guerra os peões, besteiros, frecheiros e fundeiros, e na ausência do senhor fazia as suas vezes em todos os lugares, salvo nos castelos ou castros, onde ao alcaide ou tenente tocavam em grande parte as atribuições do vílico.