Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 6: CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA Pág. 117 / 156

Esta, porém, com toda a pujança de um sangue novo, surgiu de salto, feita, e composta, como se o bom-tom lhe fosse herança de séculos.

É pasmoso!

As damas portuenses são muito mais iluminadas que os homens portuenses.

Entra-se num salão e admira-se o desembaraço das senhoras e o encolhimento canhestro dos galãs. O mais audaz encosta-se ao batente da porta e não ousa transpor o limiar sem que a rebicada do coro, núncia da primeira contradança, autorize a entrada em gorgolões, como a dos rapazes pela escola dentro.

Este acanhamento, porém, é de bom agouro.

Homens de talento e espírito são os que mais se acovardam diante de senhoras. No Porto há muito talento e espírito por força.

Os patetas, os lorpas, os atiradiços, são por via de regra os mais festeiros e festejados na sociedade, umas vezes com a cristã virtude da indulgência, outras com o riso zombeteiro da ironia.

Há por cá de tudo. Deus louvado!

E bom é que haja para que os tédios da uniformidade não volvam o mundo elegante às fórmulas dorminhocas da sociedade velha, em que o casquilho tomava a quinta chávena de chá, a pedido da dona da casa, e torcia um tendão a dançar o minuete, enquanto a menina fazia tossir ao cravo notas roufenhas, com grande aplauso e grandes abrimentos de boca, de seis velhas entendidas em cravo. Etc.

Não é menos valioso elemento, para quem se der a escrever a fisiologia do Porto, um artigo de Silvestre, que trasladamos de um jornal coevo. Dedica ele o seu escrito.

***

Pela primeira vez, na minha vida, sinto a legítima vaidade de ser útil à humanidade padecente.

Por imprevisto acaso, entrei no grémio dos “humanitários”, como agora se diz.

Oferece-se mais uma cabeça às bênçãos da humanidade por entre as cabeças do Hollowe dos unguentos, do inventor da Revalenta, do inspirado manipulador da pílula da família, do mirífico engenho que espremeu do fígado do bacalhau o óleo restaurador dos pulmões.





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