A alma, conquanto seja um ser imponderável, veste tafetás e lemistes, calça verniz, enluva-se de pelica, bamboa-se em coxins; e, se exercita algumas operações intelectuais e filosóficas, é quando se mete no estômago, como Diógenes na cuba.
Do mundo elegante são excluídas as pessoas de todos os sexos possíveis as quais não provarem que dependem como se tivessem para mais de doze mil cruzados de renda.
Se os têm ou não, essa averiguação incumbe aos lançadores da décima, impostos anexos e quinto para a amortização das notas.
Cá, o essencial e condicional é parecer que os tem; porquanto: A benigna lei económica da circulação monetária aceita como factos do dinheiro;
Porque a modista, o alfaiate, sapateiro, luveiro, boleeiro, camaroteiro, e os demais satélites do orbe elegante, são entes de índole tão sincera, que nem por pensamento suspeitam da má natureza dos mananciais donde a moeda deriva pelos meandros da sociedade escolhida.
Como quer que seja, a sociedade honesta não fica desairada encansando-se no mundo elegante. A pataratice de alguns raios postiços da boa roda não tem que ver com o eixo - a parte sã e legitimamente escolhida da alta sociedade.
O mundo elegante, na segunda cidade de Portugal, denota civilização muito adiantada.
Aqui é tudo asiático, menos o espírito que se ala quase nada às idealizações do Oriente.
Regalias materiais, fausto, cortesania, gentileza, puritanismo de raça, bizarria, donaire, feitiço de gestos e maneiras, é um pasmar o que por aí vai disso!
Não se explica a celeridade com que as camadas se desbastaram nestes últimos vinte anos. A que estava então no topo da jerarquia social ficou fazendo as mesuras solenes das velhas açafatas, por se não mesclar com o gracioso despejo da sociedade média.