Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 6: CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA Pág. 118 / 156

Declaro desde já que não inventei o remédio para a epizootia, nem os pós inseticidas, nem a cura do mormo real.

Os meus estudos patológicos atuam todos sobre a raça humana, posto que as enfermidades do gado vacum e suíno chamem de preferência a atenção do homem, animal carnívoro, que come o boi, porque o boi se não emancipou ainda e está dois séculos mais atrasado que o jumento, cuja emancipação é hoje indispensável.

De passagem direi que me espanta e indigna o desvelo que os governos empregam no exame das moléstias, que dizimam os animais prestantes para a cozinha.

É uma questão de estômago e não há aí questão de estômago que não avulte as proporções de uma questão nacional.

Se acontece grassar uma febre que devora centenares de pessoas, os conselhos de saúde descuram de averiguar os sintomas do andaço, não delegam visitadores às farmácias homicidas de província, nem aviltam os melhoramentos higiénicos de que depende a salubridade pública.

Adoece, porém, o boi, e para logo surgem os Hipócrates bovinos escrevendo aforismos e as corporações medicatrizes instauram congressos de sanidade e destacam membros científicos a vencerem tanto por dia.

Não se cura tão pressurosamente de valer ao homem, porque o homem não é comestível. Pois indivíduos há que comem o boi, e são por isso mais antropófagos que se comessem o homem.

Fecha-se a digressão impertinente.

No que eu trazia há muito empenhadas as minhas vigílias era no descobrimento de um antídoto contra a melancolia.

A medicina conhece uma doença moral chamada “hipocondria”. Os sintomas desta enfermidade são as desordens digestivas, as flatulências, os espasmos, a exaltação da sensibilidade, os terrores pânicos, a impertinência dos sentimentos morais, etc. Os indivíduos





Os capítulos deste livro