mais inteligentes e mais imaginativos, quando irritados pelas paixões, ou fatigados pelo trabalho de espírito, são mais sujeitos a estes sucessos incuráveis, quando as influências morais os não curam.
Não era esta enfermidade, de origem corpórea, a que me preocupava. A melancolia, sem flatulência nem perturbações estomacais, a que tanto ataca os inteligentes como os idiotas, era esse o meu olhar.
Horas e dias terríveis passam por nós como períodos negros da existência.
Cai-nos a cara para o seio, onde o coração nos dói premido por mão de ferro. Não há lembrança feliz que possa estrelar-nos o caos da imaginação: não há raio de sol que faça abrir flor de esperança na nossa alma arada pelo desconforto.
Essa situação é comum a muitas pessoas: só não a conhecem aquelas que travam aliança ofensiva e defensiva com a estúpida alegria, contra as intermitências dolorosas do espírito.
O amador ditoso tem horas de melancolia terna: essas são as melhores da sua vida. Aí dele quando o murmúrio do regato, e a cruz do ermo, e a Lua espelhada nas águas, lhe dão humedecer os olhos de dulcíssimas lágrimas!
O amante infeliz tem sezões aflitivas que o excruciam e desesperam. Para esses dois, tão diferentes no padecer, há uma só panaceia: é o coração da mulher, essa divina botica de todos o bálsamos para todas as feridas, abertas na refrega das paixões nobres.
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Mas, afora a melancolia do amor, há uma outra sem causa, sem preexistência dolorosa, sem antecedentes que possam indicar ao médico da alma os meios terapêuticos.
Sentem-na aqueles mesmos que a fortuna acaricia com todos os mimos deste mundo.
É a que mata os ricaços da Grã-Bretanha e a que tortura os ricos ociosos de todas as nações, onde há Sol e Lua, onde o céu é azul e a atmosfera diáfana.