Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 4: CAPÍTULO III - A MULHER QUE O MUNDO DESPREZA Pág. 74 / 156

- Pois então jantemos, que eu não penso mais. Parte-se-me o peito com dores; preciso descansar, porque há seis anos que não falo tanto, meu amigo. Estou admirada do bem que me faz o ar do campo. Ainda não tossi desde que cheguei a Sintra.

- Pois tu tens tosse?

- Tenho a tosse da tísica.

- Estás tísica?

- Parece-me que sim... Não falemos em moléstias. Vamos jantar debaixo das árvores: pode ser que eu chore, e o Sr. Silvestre também. Felizes os que choram... É a única felicidade que eu posso dar-lhe.

Estava o jantar na mesa.

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ENTRE PARÊNTESES DO EDITOR

Há de muita gente pensar que Silvestre da Silva, nesta parte das suas memórias, anda apegado às muletas literárias dos modernos regeneradores das mulheres degeneradas. Arguição injusta! A Margarida Gauthier é muito mais nova que a Marcolina; e reparem, além disso, que o processo da reabilitação. Eu estou em acreditar que Marcolina, longe de exibir a fibra pura do seu coração, pedindo que lhe aceitem a virgindade moral que ela se refugiou das paixões infames e infrenes, há de esconder os bons sentimentos com pejo de os denunciar, e fará que as fivelas da mordaça lhe apertem atrozmente os lábios, quando a palavra “amor” lhe rebentar da abundância do coração. ao meu ver, Marcolina está a dar lições de moralidade, quando muita gente pensa que ela está a pedir lágrimas e perdão dos agravos que fez à moral pública. Veremos.

Como quer que seja, aqui não há damas de camélias, nem Armandos. Silvestre não quer que o romanceiem nem dramatizem. Conta as coisas em escrito como mas disse a mim conversando, e eu agora as dou em estampa ao universo quais as achei nos seus manuscritos. Da moral do conto, o universo que decida, e os localistas.

***

Marcolina fingiu que comia e que se alegrava.





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