Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 5: SEGUNDA PARTE – CABEÇA
CAPÍTULO I – JORNALISTA Pág. 87 / 156

ó virgens saudosas da minha mocidade, ó santas da natureza como Deus as fizera, que é feito de vós, que fizeram de vós os romances, e o vinagre, e a Lua, e o pó de telha, e as barbas do colete, e os jejuns, e a ausência completa do boi cozido, que as vossas mães antepuseram às mais legítimas e respeitáveis inclinações do coração?!

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Naquele tempo, os meus pensamentos eram todos dirigidos por cálculos e raciocínios. O meu alvo mais remoto era ser ministro da coroa. Estavam as minhas faculdades regidas pela cabeça. As cabeças de alguns ministros, quando não tivessem outro préstimo, nem provassem outra coisa, muito puderam, convencendo-me da minha aptidão para os cargos superiores da república. Eu conhecia na intimidade uns homens de inteligência espalmada e cabeça escura como o cano de uma bota; homens sem ciência nem consciência; rebotalhos da humanidade, arremessados à margem pela torrente caudal das transformações sociais; espíritos tolhidos de gota, sem saudades, sem crenças, nem aspirações; entulhos de má morte, que atravancavam todo o progresso e escarneciam com gosmento sorriso as expansões atrevidas da geração nova que a cada passo queria arvorar um marco de adiantamento. Conheci estes homens, e conheci-os ministros da coroa, sopesando debaixo dos pés chumbados à terra, que ameaçava engoli-los, a explosão das ideias e o peito da mocidade que se afrontava com o possante atleta da rotina.

Comecei a publicar uma série de artigos contra os velhos, e disse mesmo que era necessário matá-los, como na Índia os filhos faziam aos pais inválidos para o trabalho. Estes artigos criaram os meus créditos de estadista, e muitas simpatias. Escrevi o panegírico da geração nova, se bem que a geração nova não tinha feito coisa nenhuma. Disse que a mocidade estava a rebentar de cometimentos grandiosos em serviço dos interesses materiais do País.





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