Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 6: CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA Pág. 99 / 156

Doces e nobres quimeras!

O jornalista austero será sempre um ente malsinado e odioso para todos os governos. Hão de expulsá-lo sempre do sacrário poluto das mercês, onde reina o ladrão laureado, que tem o segredo de abater ministros erguidos e exaltar ministros despenhados.

E acrescenta Silvestre da Silva:

Que outro homem há aí que se aventure a entrar na trilha daquele, que esmoreceu, afinal, diante das conveniências sociais? Serei eu...

Fez bem! Partiu o braço, querendo parar o movimento da roda. Desbaratou a melhor parte do seu Património em publicações panfletárias, que não rasgam sulco algum para as searas do futuro progresso da humanidade. Criou inimigos, que nem sequer lhe tinham lido as diatribes, nem lhe podiam perdoar pelas graças do estilo - inimigos que não sabiam ler, os piores de quantos há. É o que ele fez!

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Tornando ao Dr. Anselmo Sanches.

Dois meses depois que fui ao baile, planeando casar-me com uma das três representantes de ações bancárias no valor de trezentos contos para cima, vi uma senhora, que devia ter sido formosa, encostada ao braço do seu marido.

Trinta e quatro anos teria ou menos; mas os precoces vincos da velhice denunciavam quarenta anos ou mais. Lá estava o fulgor dos olhos para desmentir a denúncia das rugas, fulgor embaciado de lágrimas, mas ainda vivido como clarão crepuscular quando uma barra de púrpura e ouro tinge a orla do céu. De feito, era aquela uma vida em crepúsculo da tarde; já tudo para além-túmulo era escuridade e pavor para a triste senhora.

Chamava-se Rita e era brasileira, pura carioca, linda como todas as cariocas que não tem mais de dezoito anos.

Francisco José de Sousa, marido dela, era um português que enriquecera no Brasil. Tinham viajado longo tempo; e como Francisco José de Sousa tivesse ido do Minho e as saudades da Pátria o não deixassem nunca, escolhera o Porto para residência.





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