O fino trato, aliado à opulência, estimulou invejas, caprichos, competências e ódios mesmo na sociedade portuense. De todas esta más paixões surdiu um bom resultado: aumentou o número dos bailes, entraram em emulação as equipagens, enriqueceram as modistas, acudiram os jornalistas a fazer ata, qual delas mais encomiástica, dos bailes profusos e luxuosos; o Porto, enfim, poliu-se mais em dois anos que nos nove séculos de vida que a mitologia, vulgarmente chamada história portuguesa, lhe dá.
Estava designada a noite de um baile em casa de Rita Emília, quando os convidados receberam aviso da súbita doença de Francisco José de Sousa.
Correram amigos e indiferentes a visitar o enfermo. Fui entre os segundos: achei-o prostrado e taciturno; e não vi a esposa ao pé do leito, nem na antecâmara. Perguntavam por ela as pessoas mais familiares; mas a brasileira não recebia sequer as amigas íntimas.
Grande mistério, grande burburinho, a curiosidade em ânsias, a maledicência espionando, a calúnia imaginosa a segredar por praças, e salas, e botequins, desaforadas conjeturas. Andou pois a difamação explicando às cegas, por vários modos, a enfermidade moral de Francisco de Sousa e a misteriosa ausência de D. Rita.
Quinze dias depois fecharam-se as portas e janelas da casa do brasileiro, e os criados, quase todos despedidos, disseram que os amos tinham ido viajar.
Aqui é que a curiosidade ia dando um estouro. Houve aí bisbilhoteria ilustre que se encanzinou de raiva por não poder esquadrinhar o segredo desta saída, a qual, de força, devia ter um escândalo por causa, escândalo que a hipocrisia pudera abafar ardilosamente.
Havia nesta casa uma menina de dezasseis anos, órfã, muito rica, pupila do brasileiro e filha doutro, que morrera no Brasil, quando andava em liquidação.