O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 189 / 414

Em certas ocasiões, aos sábados, juntavam-se cinco, seis pessoas; velhas falavam baixo, com gestos misteriosos; uma altercação mal-abafada roncava no patamar, de repente desatavam a chorar; e, impassível, o Sr. Gouveia escrevinhava os seus registos, arremessando para o lado jatos melancólicos de saliva.

A tia Vitória, no entanto, com a sua touca de renda negra, um vestido roxo - ia, vinha, cochichava, gesticulava, fazia tilintar dinheiro, tirando a cada momento da algibeira rebuçados de avenca para o catarro.

A tia Vitória era uma grande utilidade; tornara-se um centro! A criadagem reles, mesmo a criadagem fina, tinha ali para tudo o seu despacho. Emprestava dinheiro aos desempregados; guardava as economias dos poupados; fazia escrever pelo Sr Gouveia as correspondências amorosas ou domésticas dos que não tinham ido a escola; vendia vestidos em segunda mão; alugava casaca; aconselhava colocações, recebia confidências, dirigia intrigas, entendia de partos. Nenhum criado era inculcado por ela; mas, arranjados ou despedidos, nunca deixavam de subir, descer as escadas da tia Vitória. Tinha além disso muitas relações, infinitas condescendências; celibatários maduros iam entender-se com ela, para o confortozinho de uma sopeira gordita e nova; era ela quem inculcava as serventes às mulheres policiadas; sabia de certos agiotas discretos. E dizia-se: "a tia Vitória tem mais manhas que cabelos!"

Mas, ultimamente, apesar dos seus afazeres, apenas Juliana entrava, levava--a para o quarto nas traseiras, fechava a porta, e havia para meia hora!

E Juliana saia sempre vermelha, os olhos acesos, feliz! Voltava depressa para casa e mal entrava:

- A senhora ainda não voltou, Sra. Joana?

- Ainda não.

- Está na Encarnação.





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